terça-feira, 18 de novembro de 2008

Introdução

O presente trabalho tem como objetivo expor algumas definições e análises sobre a arquitetura orgânica e mostrar sua influência nas obras de Frank Lloyd Wright.

A trajetória profissional de Frank Lloyd Wright (1869-1959) foi constituída por uma tentativa de expressar o que ele denominava “arquitetura orgânica”.

Arquitetura essa que a partir de um lugar eleito por Wright como centro de seu projeto, se abre para as diversas funções da casa como um organismo vivo. Não apenas um organismo de formas irregulares ou características volumétricas que lembram a natureza, mas uma construção que faz uma leitura ao seu redor, que considera os materiais e características da região. E é assim que as casas de Wright acoplam no terreno como se um dia ela realmente estivesse brotado dali.






Frank Lloyd Wright


Frank Lloyd Wright foi um grande arquiteto estadunidense que possui um acervo de mais de trezentos edifícios construídos e mais ou menos o mesmo número de projetos.
Para ZEVI, há duas características que definem esse arquiteto, inovador e revolucionário. Dessa forma, este afirma que Wright se opôs a moral utilitária da sociedade contemporânea e a educação acadêmica, seja esta tradicional ou moderna, é o que ZEVI chama de declaração de independência, o que difere Wright de Le Corbusier:

“...Declaración de Independencia...independencia de que? Pues bien, indenpendencia de todas las imposiciones, cualquiera que sea la fuente de la que provegan . Independencia del clasicismo –nuevo o viejo- y de toda actitud de devoción respecto a los llamados “clásicos”. Independência de ulteriores crucifixiones de la vida por parte de los habituales standards comerciales acadêmicos...; declaración de independencia no sólo respecto a uma cultura inerte, sino también a um sistema ecléctico de educación. Yo declaro a absoluta independencia respecto a todo esteticismo acadêmico, dondequiera e comoquiera haya sido santificado.” (ZEVI, PÁG. 450)

A comparação expressa acima é oriunda da análise do capítulo de –IX da obra de ZEVI, do livro Historia de la Arquitectura Moderna. Assim sendo, acredito que Frank Lloyd Wrigh possui essa independência por estar em um continente que possui uma história e costumes tão diferentes da europa.
Os Estados Unidos da América é resultado de treze colônias britânicas que se estabeleceram na costa da América do Norte a partir do século XVII, no século XVIII houve a Revolução Americana dando aos Estados Unidos sua independência. Dessa forma, já no fim do século XIX Frank Lloyd Wright se destacava enquanto arquiteto de seu país.
A história da Suíça, país de origem de Le Corbusier (1887-1965), começa antes do Império Romano em 500 a.C. Nesse instante, muitas tribos celtas estavam localizadas nos territórios do Centro-Norte da Europa. A mais importante delas era a dos Helvécios, nome que iria originar a designação atual da Suíça.
Dessa maneira, podemos observar com as descrições dos dois parágrafos acima quanto pequeno é o período entre o estabelecimento das treze colônias na América e o início da arquitetura de Wright comparando-a com o espaço de tempo entre a origem da Suíça até os primeiros trabalhos de Le Corbusier.
Minha intenção é mostrar que a independência de Wright é resultado por ter como influência histórica e cultural um país de poucos séculos de existência.
Dessa forma, tem-se como resultado uma liberdade de criação experienciada poucos vezes na história da arquitetura.
Já no caso de Le Corbusier a análise se modifica, afinal suas influências são de países tradicionais europeus, efetuando assim uma arquitetura racionalista.
Assim sendo, ZEVI aponta a diferença entre e Europa e Norte América:

“La única diferencia existente entre Europa y Norteamérica es la seguinte: em Europa es necesaria una profunda conciencia crítica, una historiografía actual, un continuo desafío del presente al pasado y además una mayor fiscalización intelectual. Los norteamericanos no tienen necesidad de ello, por lo menos en los mismos términos. Wright puede odiar el Renacimiento, afirma que su arquitectura es una arquitectura de decoración, meramente parietal, concebida en dos dimensiones. Puede detestar a Miguel Ángel, considerando sua métodos constructivos inorgánicos y falsos; puede repetir cuidadosamente em sus discursos que en la cúpula de San Pedro hay un tirante puesto allí a último momento para contrabalancear las cargas laterales que no habían sido adecuadamente previstas. Este tirante es para él el símbolo de toda una arquitectura que busca efectos simplemente estéticos, incluso escultóricos. Tampoco tiene necessidad wright de ccomprender que la supuesta “falsedad constructiva” es un factor indispensable para la realización de la concepción de Miguel Ángel, de una visión espacial y plástica que es la “verdad poética” de la cúpula respecto a la cultura de la época e incluso a nuestra cultura histórica. Wright no está comprometido dentro de los términos del debate europeo, de este continuo volver a pensar y a interpretar el pasado; puede recharzalo.” (ZEVI, PÁG.444)

De acordo com Wright as construções européias estão integradas a uma pequena parcela da população, os capitalistas intelectualizantes. Já nos Estados Unidos desde os princípios do século até 1925, tal elite não existia, havia os industriais que sufocavam a Escola de Chicago a aceitar as imposições.
Assim, o norte americano médio, não possuía prejuízos, era uma classe a qual não tinha complexo de inferioridade, nem grande poder financeiro, mas podia construir-se uma casa e aceitar a ela uma livre expressão arquitetônica.
Dessa forma, Wright tem a liberdade em expressar o que ele denomina de arquitetura orgânica. Essa qualificação esteve sempre presente em sua trajetória profissional. A qual se iniciou de acordo com a obra de FRAMPTON, História Crítica da Arquitetura Moderna, no ano de 1890 ao trabalhar com Adler e Sullivan, os quais foram os primeiros inspiradores nos pensamentos de Wright.
A arquitetura desse norte americano possui alguns elementos características que não posso deixar de expor neste trabalho. Componentes como o telhado de pouca inclinação, a animação das superfícies com faixas de ornamentos e cornijas lineares, ênfase espacial dada à lareira, coberturas salientes, terraços baixos, paredes contíguas isolando jardins privados, volumetria precisa e sempre uma tentativa de fundir a natureza com sua arquitetura.




Arquitetura Orgânica


Ao longo da história houve duas tendências na arquitetura que se fizeram presentes em todas as culturas a racional e o geométrico, outra para o orgânico.
Desde o início da civilização houve cidades planejadas de acordo com esquemas regulares e cidades que cresceram organicamente. Trata-se de duas concepções diferentes, não podendo considerar uma superior a outra.
Para Argan, orgânico é justamente o termo com que se designa a lei vital ou de decrescimento da realidade. Já na terminologia crítica da arquitetura moderna, o termo orgânico já substitui o termo racional, invertendo-lhe o significado.
Já para Sullivan orgânico significa a procura de realidades, e assim Giedion em seu livro Espaço, Tempo e Arquitetura descreve alguns pensamentos de Sullivan sobre esse termo analisado:

“Por volta de 1900, em sua obra Kindergarten Chats [Conversas de jardim de infância], Louis Sullivan tentou chegar ao verdadeiro sentido do termo Arquitetura Orgânica, embora por contraste, explorando o que a palavra orgânico não queria dizer. Orgânico, afirmava ele, quer dizer vivo, quer dizer desenvolvimento, e não, como na arquitetura dominante em 1900, “lamentável em sua frivolidade,...com funções sem formas, formas sem funções; detalhes incongruentes com as massas e massas somente congruentes com tudo o que seja frivolidade...”. (ARGAN, 2001, PÁG. 272)

Sullivan foi um possuidor de um intenso interesse pelas ciências e pela engenharia e uma aguda sensibilidade pelos problemas sociais. Sullivan herdou de Morris e de Ruskin uma concepção religiosa da vida, e exatamente do naturalismo o qual Wright traz para sua construção ideológica de uma “vida orgânica”. Assim, Argan acrescenta em seu livro algumas definições sobre essa ideologia de Wright:

“...o conceito de uma “vida orgânica” que é da natureza como do homem, ser perfeitamente dotado para receber e transmitir os impulsos vitais emanados da natureza, de Deus ou antes de um Infinito Espírito Criador reconhecível e ativo em todas as formas da realidade; de uma criação longe de ter sido concluída no ato autoritário de um deus pessoal, mas em contínuo progresso; de uma arte como processo criativo suscitado pela experiência ou como prolongamento no homem daquela ação criadora, e por isso oposta ao intelectualismo da composição e representação e pensada, ao contrário, como crescimento e organização de formas vitais; de uma espiritualidade humana que se realiza justamente nesse colocar-se, com a prática e portanto com o trabalho, como o prolongamento da criação; de uma sociedade enfim, perfeitamente democrática, entendida como fraternidade e cooperação de indivíduos igualmente investidos de um direito natural.” (ARGAN, 2001, PÁG. 272)

Em 1908, Wright estabeleceu as seis características da arquitetura orgânica, de acordo com o capítulo IX, da obra Historia de la Aquitectura Moderna de Bruno Zevi:

1) Simplicidade, eliminação do que não é essencial. Assim, o único segredo da simplicidade é que não se pode considerar nada como simples por si mesmo, as coisas devem conquistar a simplicidade. Dessa forma, sabe-se o que se deve abandonar em um projeto ou acrescenta-lo quando já se educou no conhecimento da simplicidade.
2) Ter tantos estilos na arquitetura como estilos de pessoas. Wright por ter vivido em uma sociedade que não sofreu com os problemas de pós-guerras e de crises econômicas, odeia as regras e os standards.
3) O edifício deve ser concebido como feito orgânico. Foi dito por Wright em 1901, que a natureza tem proporcionado o material para os temas arquitetônicos dos quais há surgido as formas que conhecemos.
4) Cores que harmonizem com as formas naturais. Em sua maior parte as casas racionalistas são brancas, em nome de um ideal volumétrico puro. Mas essa questão é problemática, pois há algo pulsante nos edifícios de Wright que são as cores escolhidas de acordo com as variações dos materiais utilizados.
5) Mostrar os materiais como são. Para Wright todo material tem sua mensagem e, para o artista criador, sua poesia.
6) Uma casa com caráter, que expresse sua função.



Arquitetura Orgânica e sua influência na arquitetura de Frank Lloyd Wright



A trajetória profissional de Wright foi constituída por uma tentativa de expressar o que ele denominava “arquitetura orgânica”. Em janeiro de 1940 Wright deu uma palestra a fim de definir e explicar essa arquitetura orgânica.
Na residência Taliesin há uma bela vista ao fundo com um cume de uma colina, neste local em julho de 1939, Giedion interroga Wright sobre a regularidade do terreno, imaginando-a ser artificial. Wright respondeu: Não, é o terreno natural, nunca construo casas no alto de uma colina. Eu as construo ao seu redor, como uma sobrancelha.

“Quando ficou isolado e sem apoio público, e a América se voltou contra ele, Wright até construiu casas nas dobras do terreno, que pareciam converter-se em natureza e originar-se dela. Porém, mesmo em suas primeiras casas, como a casa Coonley de 1911, com seus beirais que se prolongam para além das paredes e suas plantas que se estendiam ao longo dos elementos em balanço, podemos constatar esta tendência de fundir a casa com seu entorno, de modo que com freqüência é impossível dizer onde a casa começa.” (GIEDION, 2004, PÁG. 444)

A unidade espacial buscada por Wright resulta em uma casa fechada. Dessa maneira, há críticas em relação ao baixo pé-direito e beirais que se prolonga para além das paredes, o resultado arquitetônico é de um ambiente um tanto escuro. Assim, podem-se notar essas características geralmente em suas casas do período de Chicago (exemplos, casa Martin e casa Robie).
Wright optava sempre por materiais extraídos diretamente da natureza, paredes de pedra bruta, pisos de granito bruto e madeiras rústicas, sem acabamento. Dessa forma, nota-se sua propensão para o orgânico.

“Wright vincula a habitação humana ao solo o mais intimamente possível, introduzindo-o dentro da casa na forma de paredes rústicas. O terreno adere à casa como, nas palavras de Louis Sullivan, uma “realidade que se apreende com todos os dez dedos”. Para Wright a casa era um abrigo, um refúgio onde o animal humano pode se isolar como numa caverna, protegido da chuva e do vento- e da luz. Lá ele pode se recolher em plena segurança e quietude, como um animal em sua toca. ”
(GIEDION, 2004, PÁG. 445)




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALAN HESS, Alan Weintraub. Las casas de Frank Lloyd Wright. Gustavo Gili, Barcelona, 2006.


ARGAN, Giulio Carlo. Projeto e Destino. Ática, São Paulo, 2001.


BENÉVOLO, Leonardo. História da arquitetura moderna. Perspectiva, São Paulo, 1976.


FRAMPTON, Kenneth. In: História Crítica da Arquitetura Moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1997.


GIEDION. In: Espaço, Tempo e Arquitetura - O Desenvolvimento de uma Nova Tradição. São Paulo: Martins Fontes, 2004.


ZEVI, Bruno. Historia de la Aquitectura Moderna. Emecé, Buenos Aires.









Casas de Frank Lloyd Wright



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